quarta-feira, 14 de novembro de 2012

HOMOFOBIA, CABRAS E LIBERDADE DE OPINIÃO


O estudante de jornalismo não precisa se formar para entender o poder que o jornalista tem em mãos. Na metade do curso, a importância de saber lidar, da forma correta, com esse poder de influenciar o pensamento de uma quantidade enorme de pessoas, já está mais do que clara. Desse modo, quem é jornalista aprende, desde sua formação, que deve tomar cuidado com o que publica e com a opinião que expressa.

No entanto, diversos fatores podem ter levado o ex-diretor de redação da Veja, e atual colunista da revista, José Roberto Guzzo, que tem muitos anos de experiência na profissão, a publicar em sua coluna um texto que expressa sua opinião homofóbica sobre temas que envolvem a homossexualidade. “Parada gay, cabra e espinafre”, publicado nesse domingo (11), relaciona orientação sexual, a hortaliça preferida do Popeye e um animal doméstico, como se houvesse algo em comum entre os três.

O texto, que se transformou em um dos assuntos mais comentados nas redes sociais desde sua divulgação, apresenta uma visão homofóbica de um jornalista, baseada em argumentos sem fundamento. Guzzo defende, entre outras coisas, que se os homossexuais querem ser tratados com igualdade, eles devem parar de lutar por tratamento especial, como, por exemplo, em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. “Um homem também não pode se casar com uma cabra, por exemplo; pode até ter uma relação estável com ela, mas não pode se casar”, ele argumenta no texto, comparando zoofilia a homossexualidade.

Todas as pessoas têm direito à liberdade de expressão, por mais fora da realidade que sejam suas opiniões. Mas é preciso lembrar que se trata da opinião de um jornalista conceituado, veiculada em um dos principais veículos de comunicação do país. É claro que qualquer tipo de alteração no conteúdo desse texto poderia ser considerado censura, mas chega a ser absurdo que um jornalista e uma revista divulguem esse tipo de conteúdo sem apresentar, no mínimo, argumentos lógicos.

E foi graças à liberdade de expressão, que o Deputado Federal (PSOL-RJ), Jean Wyllys, pôde publicar em seu blog uma visão diferente da apresentada por Roberto Guzzo. No texto intitulado “Veja que lixo!”, publicado na segunda-feira (12), Jean, que é também jornalista, esclarece a maioria dos argumentos absurdos propostos por Guzzo. Ele defende a luta do movimento LGBT e o compara ao movimento negro, uma comparação muito mais realista do que as feitas pelo colunista da Veja.

É preferível ler o texto de Jean ao texto de Guzzo. Enquanto o colunista faz apologia à homofobia em seu texto, tratando a violência contra homossexuais sem considerar os motivos que levaram a tal violência, o texto do deputado busca apenas esclarecer e criticar de forma inteligente as idéias errôneas apresentadas anteriormente.

No início do seu texto de repudio, Jean Wyllys diz que pensou em não responder à coluna de Roberto Guzzo “para não ampliar a voz dos imbecis”. Mas, ainda bem que ele o fez, pois assim como as pessoas têm direito à liberdade de opinião, elas têm direito a ter conhecimento sobre as formas diferentes de pensar determinado assunto.

Devem ter existido aquelas pessoas que preferiram o ponto de vista do colunista conceituado ao do deputado, declaradamente gay e ganhador de um reality show. Entretanto, os temas relacionados à homossexualidade merecem o devido respeito, algo que não receberam no texto do colunista. De modo que, vozes como Jean Wyllys são as que merecem ser ampliadas. “Eu não espero pelo dia em que os homens e mulheres concordem, mas tenho esperança de que esteja cada vez mais perto o dia em que as pessoas lerão colunas como a de Guzzo e dirão ‘veja que lixo!’ “, disse Jean ao finalizar seu texto.





2 comentários:

Leona disse...

Adorei o texto, corajoso!!! Falou aquilo que todo mundo pensa e que muitas vezes não tem coragem de falar. Os direitos são iguais e ninguem deve ter privilégios. Parabéns Roberto Guzzo!!!

Anônimo disse...

Por que removeram o texto do Roberto Guzzo?