quarta-feira, 28 de novembro de 2012

SEM TRANQUILIDADE


Ela sai da faculdade, atravessa a passarela e espera no ponto de ônibus. Em pouco tempo surge aquele que a levaria para o lugar desejado e ela entra no transporte coletivo. Entrega seu passe estudantil ao cobrador e escolhe sentar no terceiro banco da frente do ônibus, próxima a janela. O vento sopra em seu rosto e o ônibus, com poucos passageiros, segue seu caminho.

De repente, ela sente um leve chute em sua perna esquerda, olha para o lado e vê um homem, sentado em um banco do outro lado do corredor. Supõe que ele deveria ter tropeçado na sua perna, talvez, apesar da distância, e volta a olhar para a janela. Mas o pé do homem toca sua perna novamente e ela volta seu olhar para ele. É então que ela compreende a situação.

O homem, aparentando ter entre trinta e quarenta anos de idade, olha para os lados enquanto suspende sua camisa pólo listrada. Com o movimento rápido ele mostra o que seria, supostamente, uma arma escondida na sua calça jeans. A garota olha, sob seus óculos de sol, o homem que continua a olhar disfarçadamente para os lados e lhe pede seu celular.

Sua boca fica seca, quando percebe estar realmente sendo assaltada. Mentindo para o ladrão, ela diz que não tem celular, o que de certo modo era verdade, já que ela tivera dois celulares roubados naquele ano, e no momento usava o celular emprestado por sua madrinha. Quando ele pede para que ela o entregue seu dinheiro, mais uma vez ela mente, e diz só possuir os passes estudantis.

O homem a olha aborrecido e pergunta com descrença explícita se ela realmente não tinha um celular. Cada vez mais nervosa, a garota percebe que não poderia evitar o terceiro roubo de celular do ano, e pede para o ladrão se, pelo menos, poderia retirar os chips do aparelho. O ladrão consente e, apressadamente, senta-se ao lado da garota, deixando-a ainda mais acuada.

Ignorando o gosto metálico que surge em sua boca, a garota pega o celular da bolsa e retira os chips com suas mãos trêmulas. Após receber o aparelho, ele ainda pede os passes estudantis que a garota disse possuir e leva também o anel que ela ganhara da sua avó. Após uma última ameaça o homem pede que o motorista pare no ponto seguinte, localizado em frente a um shopping, e desce do transporte, como um passageiro qualquer.

A garota observa o ladrão passar ao lado do ônibus, indo em direção ao shopping. As lágrimas teimam em saltar dos seus olhos, enquanto guarda os chips na sua bolsa. O cobrador toca em seu ombro e pergunta se ela acabara de ser assaltada. Assente com a cabeça e começa a ouvir os comentários surpresos dos outros passageiros, que não haviam notado a ação.

Soteropolitana, baiana e moradora do país vice-líder em roubo de celulares. De acordo com estudo de uma empresa especializada em segurança da informação, F-Secure, divulgado esse ano, 25% dos brasileiros já teve seu celular roubado. O índice altíssimo do Brasil só perde para a Índia, onde as taxas de roubo são de 35%. E, mais uma vez, ela passava a fazer parte da porcentagem absurda e revoltante, que reflete a falta de segurança do seu país.

Dias depois, ela sai da faculdade, atravessa a passarela e espera no ponto de ônibus. Em pouco tempo surge aquele que a levará para o lugar desejado e ela entra no transporte coletivo. Entrega seu passe estudantil ao cobrador e, nervosa, observa os passageiros enquanto escolhe um lugar, aparentemente seguro, para sentar. Durante todo o percurso ela continua olhando para os lados atentamente, sem seu celular, sem seu anel e sem sua tranquilidade.




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