segunda-feira, 8 de abril de 2013

UM DOMINGO DE FONTE NOVA APÓS 1960 DIAS



Começa uma nova história: A frase colocada perto da ferradura da Arena resume a importância daquela tarde histórica, que será lembrada daqui a muitos anos. E justamente por recordarmos nossa história, lembrando dos momentos que vivemos no antigo estádio, que desde cedo o clima era diferente. Ainda dentro de casa já era possível ouvir o burburinho na rua. O assunto era a volta do ambiente onde muitos aprenderam a gostar de futebol, o clássico Ba-Vi ficou em segundo plano.

A cerimônia pré-jogo durou cerca de 30 minutos,
e terminou cinquenta minutos antes do jogo.
Foto: Lucas Coutinho.
Faltando três horas para o início da partida, o bairro de Brotas já vivia um engarrafamento em pleno domingo, algo visto apenas em dia de eleição. Assim como eu, dezenas de pessoas preferiram ir andando até a Fonte Nova. O estádio vai se aproximando, as janelas das casas exibem as bandeiras, que também aparecem nos carros junto com hinos e buzinaço. Ao redor do estádio, apesar de toda movimentação, o clima é tranquilo. Os torcedores se dirigiram aos seus portões e circularam com facilidade até as cadeiras, quando a beleza da Arena surpreendeu até mesmo quem quase diariamente olhava fotos da construção na internet. A festa estava começando!

Desde o Dique já era possível ouvir ambas as torcidas cantando, mas lá dentro a acústica favorecia tanto que era quase ensurdecedora. E junto ao grito da torcida, iniciou-se a festa de abertura apresentada pelo ator Fábio Lago, e não faltaram coreografias de dança e lembranças sobre nossa cultura. A mistura de música da apresentação e cantos da torcida só parou mesmo para os aplausos, quando foram falados os nomes dos sete torcedores vítimas do acidente da última partida do antigo estádio. A atenção também se voltou para um garoto de 13 anos: Arthur Nascimento, que possui paralisia cerebral e passou grande parte de sua infância sem sequer conseguir sentar, após tratamento iniciado em 2010 foi capaz de, apenas com a ajuda de muletas, dar o pontapé inicial da nova arena.

No espetáculo também não faltou música, apesar desta ter sido ofuscada por um sistema de som que ainda não está afinado. O som começou com Margareth Menezes, mas quem roubou a cena, como já era esperado, foram Ivete Sangalo e Claudia Leitte, que cantou em vermelho, azul e branco ao lado de Dan Miranda e Márcia Short, e se aproximou da Torcida Bamor após sua apresentação. Ivete entrou sob lamentáveis vaias vindas da torcida tricolor, mas com um bom jogo de cintura fez sua apresentação ao lado de atletas que marcaram a história da Fonte. Já com os dois times em campo, os hinos da Bahia e do Brasil ficaram por conta do Olodum.

O JOGO

Times fazem a última conversa antes da partida
Foto: Lucas Coutinho
Nos primeiros minutos o Bahia chegou com muito mais perigo ao gol rubro-negro, sendo a grande chance de gol um chute de Adriano Michael Jackson aos quatro minutos, que certamente seria gol, não fosse a grande defesa de Deola. Começando a se encontrar, com muito mais volume de jogo, aparecerem as chances do Vitória, que eram perdidas em más finalizações. O jogo também começava a ficar pegado, motivando os cartões de Escudero, do lado do Vitória, além de Adriano e Fahel do lado tricolor.

Quando a monotonia tomava conta do meio do primeiro tempo, de poucas chances para o Bahia, más finalizações do Vitória e jogo preso no meio de campo, um pênalti! Neto derrubou Mansur na grande área. Com bola de um lado e Marcelo Lomba de outro, Renato Cajá fez história, marcando o primeiro gol da Arena.

Imagem frisada mostra que enquanto Renato Cajá
chegava com o pé de apoio, antes de chutar a bola,
o goleiro do Bahia, Marcelo Lomba, já pulava
mostrando para qual lado iria.
Reprodução TV Bahia
Os primeiros minutos do segundo tempo foram equilibrados, até o argentino Max Bianchucchi ampliar para o Vitória num golaço de cobertura. A reação tricolor foi ágil, e um minuto depois Obina marcava um gol que foi corretamente anulado pela arbitragem, pois por poucos centímetros ele estava impedido. Com a anulação do gol que incendiaria o jogo, o Vitória passou a dominar a partida. Quando a posse da bola chegava ao Bahia, o time era pouco eficiente, não sabia avançar, passar para lateral, cruzar na área ou arriscar de longe. A bola era presa como se o time vencesse o jogo, e quando a bola era perdida surgiam boas oportunidades para o rubro-negro.

E numa delas veio uma tabelinha avassaladora, que resultou no terceiro do Vitória, marcado por Michel, aos doze do segundo tempo, e já naquela altura o jogo estava claramente perdido do lado tricolor. A esperança de alguns torcedores voltou aos 21, quando Zé Roberto, após receber passe de Magal pela esquerda, só teve o trabalho de tocar para a rede, fazendo o primeiro gol do Bahia na Arena Fonte Nova.

O Bahia tornou-se então franco atirador. Avançou na esperança de buscar um empate, deixando a defesa desprotegida, porém continuou faltando eficiência. E com a bola ganha em seu campo de defesa, o Vitória avançou, enquanto Titi solitário recuava, quando podia ter ido marcar ou fazer uma falta no meio campo. Sem perdoar, o Leão avançou com Vander, que tabelou com Marquinhos e fez o quarto gol do Vitória sobre seu ex-clube, que o dispensou após alegar “deficiência técnica”.

A partir de então a pane tricolor foi definitiva, o Vitória passou a mandar de vez no jogo, até Escudero aproveitar novo vacilo da defesa do Bahia, e aos 39 sacramentar o resultado final de 5 a 1. O Resultado do jogo foi decisivo para a saída do treinador Jorginho, que já enfrentava uma crise interna, e saiu após sete meses no clube. O Bahia permaneceu na liderança do Grupo A do Baianão com 05 pontos, enquanto o Vitória lidera o Grupo B com 12.

Enquanto lá fora havia um belo pôr do sol,
na arquibancada a torcida do Vitória
comemorava.
Foto: Lucas Coutinho
O grande mérito do Vitória foi reconhecer e abusar de históricos problemas de seu rival, a inexistente armação de jogadas no meio de campo - evidente desde a saída de Gabriel - que deixou o tricolor encurralado e constantemente perdendo a posse da bola, e a defesa falha, com Titi sem sua principal característica, avançar para recuperar a bola, e Danny Morais, que há anos é criticado pela torcida, desde a saída de Paulo Miranda, mas que nunca teve um bom substituto.

O Rubro Negro fez a festa na Fonte Nova, foi superior e escreveu a história, num jogo que eu particularmente considero mais importante que o próprio Campeonato Baiano 2013. O Bahia parece reviver o período da antiga Fonte, de má administração e de retrocessos, como a volta de Joel Santana. Porém vale lembrar, sua popular torcida, que manteve o Bahia vivo quando ele foi ao fundo do poço, não terá a mesma presença de antigamente, em virtude da expressiva diferença no preço dos ingressos.

A Fonte Nova voltou, está linda e será abraçada pelo povo, seja com futebol ou com outros grandes eventos. O rubro negro saiu na frente do tricolor, que terá de fazer por merecer jogar ali. Que venham os próximos capítulos dessa nova história!


Um comentário:

mari disse...

Belo texto.
Infelizmente a Fonte Nova voltou e o nosso tricolor não.
Espero melhorias no time e viver momentos felizes na nova arena.