quarta-feira, 10 de abril de 2013

ALEGRIA DE UMA FOCA


Já passou das 21h e ela ainda se encontra no trabalho. Sentada de frente para o computador e aguardando o chefe fechar o jornal para que possa ir para casa, ela começa a lembrar de seus primeiros dias de “foca”.

Da produção de um currículo cheio expectativas e poucas experiências, até a primeira entrevista bem sucedida, alguns veículos de comunicação já haviam recusado seus serviços. Mas no primeiro dia do primeiro estágio, a força de vontade e o interesse em aprender, superaram a inexperiência de quem só tinha feito reportagens para a faculdade.

Os olhos brilhando com a pauta que acaba de surgir, o medo de telefonar para delegacias, hospitais, assessorias de comunicação e outros bichos de sete cabeças. A superação da vergonha em abordar as pessoas na rua para fazer perguntas escritas num bloquinho de anotações recém-comprado.

A pressa em escrever com a caneta Compactor tudo aquilo que é dito pela fonte. As mãos que ainda não conseguem acompanhar a rapidez das palavras ditas e o olhar que se divide entre uma pessoa desconhecida e o bloquinho cheio garranchos.

A empolgação em escrever as reportagens, de colocar em prática toda aquela teoria aprendida na faculdade. O que? Quem? Quando? Onde? Por quê? Como? A construção do lead com as informações principais. A tristeza em cortar, cortar, cortar tudo aquilo que foi apurado, para poder exercitar o poder de síntese, algo nunca foi o seu forte.

O desespero no fechamento da primeira edição do jornal. A alegria de ver a edição fresquinha. O sorriso ao apontar seu nome assinando a reportagem. O desapontamento em observar os erros cometidos. A esperança de cometer menos erros e mais acertos da próxima vez.

Olha para o relógio. Já são mais de 22h. O chefe ainda não fechou a edição. Ela se mantém disponível para ainda escrever textos, corrigir erros, escolher fotos. No meio jornalístico “foca” é o nome utilizado para se referir ao estagiário, ou aquele jornalista recém-formado, que escorrega de vez em quando, devido à falta de experiência. Apesar de ainda ser estagiária, sente que tem se afastado cada vez mais da condição de “foca” à medida que vai ganhando conhecimentos na área e desenvolvendo sua futura profissão.

Mas, no dia seguinte, ao sujar suas mãos com a tinta do jornal que acaba de chegar da gráfica, ela ainda vai olhar para o seu nome impresso ao lado das matérias que produziu. Os olhos vão brilhar. E ela vai ter aquele orgulho típico de uma “foca” que observa a primeira reportagem publicada.


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