quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

UM CONTADOR DE HISTÓRIAS


O telefone toca incessantemente. Ele tira os olhos da tela do computador e atende. A voz do outro lado da linha é apressada e informa que está acontecendo uma manifestação numa avenida de grande circulação de veículos. Ao desligar o telefone seu pequeno bloco já está repleto de anotações.

Pega a máquina fotográfica, o gravador, a caneta e seu inseparável bloquinho de papel. Coloca tudo numa bolsa e sai correndo em direção à notícia.

O trânsito está terrível, como era de se esperar, e ele fica o tempo todo pensando em alternativas para se livrar do engarrafamento e chegar ao seu destino. Olha a agenda telefônica e junto com nomes e números surgem as soluções. Em pouco tempo já está montado na garupa de uma moto, se espremendo entre os carros, e agradecendo por ter uma boa lista de contatos.

Quando chega ao local, primeiro ele observa. Anota mentalmente as possíveis fontes para entrevistas, saca a máquina da bolsa e começa a fotografar. Um rapaz que grita. Uma mulher que chora. Um pneu queimado. A polícia. Uma ambulância. Cada acontecimento sendo registrado pela lente da câmera, enquanto ele se aproxima cada vez mais dos personagens.

E então vêm as perguntas. Algumas já haviam sido elaboradas, enquanto outras são dúvidas que surgem no meio de um depoimento. Anota nomes, idades, aspas.

No caminho de volta um texto já surge em sua mente. Ele repassa os acontecimentos, os porquês, os quems. Os dedos ágeis batem nas teclas e na tela a história começa surgir. As fotografias complementam a sua visão, o seu ponto de vista, e ajudam a ilustrar a história que no dia seguinte será lida por milhares de pessoas.

Ainda com o gosto de café na boca ele anda pela rua em direção ao trabalho. Duas mulheres caminham na sua frente, uma delas segura o jornal. Comentam sobre pneus queimados, um homem que gritou, uma mulher que chorou, a polícia, uma ambulância, o engarrafamento.

Ele se delicia ao ouvir a história que ele escreveu, sendo contada através do seu ponto de vista. E ele se senta em frente à tela do computador, ainda com a satisfação de ter contado uma história que será recontada por diversos desconhecidos durante todo o dia.

O telefone toca. Voz apressada. Dupla dinâmica: caneta e bloco de papel. Anotações. Pega a máquina fotográfica, o gravador, a caneta e seu inseparável bloquinho de papel. Coloca tudo numa bolsa e sai correndo em direção à notícia.





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