Ainda doía. Tudo tinha acontecido tão rápido: o
casamento, a viagem, o acidente, o velório. De repente, ele não estava mais
ali, para poder abraçá-la e confortá-la nos momentos difíceis como aquele.
Ainda não conseguia acreditar que não iria mais ouvir sua voz ou que nunca mais
estaria envolta por seus braços.
Lágrimas, dor, desespero. Em um momento estava ao
seu lado, cantando juntos uma música que passava na rádio. No outro momento ela
já estava deitada numa cama de hospital recebendo a pior notícia de sua vida.
Ele não estava mais vivo. Ela não veria de novo seu sorriso.
E em meio a tanta agonia ela foi trazida de volta à
realidade, quando viu sua sogra conversando baixo com o médico sobre doação de
órgãos. O doutor pedia que a mãe do seu marido pensasse bem no assunto, e ela
via sua sogra balançar a cabeça negativamente, enxugando as lágrimas dos olhos.
Mas não havia porque pensar no assunto, aquela decisão já havia sido tomada.
A princípio ela estranhou, nunca entendeu a
necessidade de ter aquela conversa mórbida. Eles estavam conversando
animadamente na sala. A televisão estava ligada. Cada um em seu computador. E ela
pesquisava os locais para realizar o casamento quando ele tocou no assunto.
Naquele dia seu noivo passara a fazer parte dos 80
mil brasileiros que utilizaram a rede social para se declarar doador de órgão.
Ele não só postou a decisão no seu perfil, como também fez questão de conversar
com ela sobre o assunto. Pediu para que ela prestasse bastante atenção e lhe explicou
a importância desse ato de salvar vidas, mesmo após sua morte.
Odiou aquela conversa. Odiava a idéia de ele morrer
antes dela. Eles ficariam juntos por muito tempo e ela só queria se preocupar
com esse assunto na velhice. Tratou logo de encerrar a discussão e voltou a
planejar o casamento.
Deitada naquela cama de hospital, lembrando-se da
conversa que tiveram há poucos meses atrás, ela juntou o resto das forças que
tinha para comunicar à família e ao médico que os órgãos do seu marido seriam
doados sim. Era o que ele queria.
Hoje, lembrando-se de tudo que havia se passado no
ultimo ano, ela sorria com tristeza ao lembrar-se daquela conversa que mudara
suas vidas. E que não só mudara a vida daquele jovem casal, como também a vida
de alguém cujo fim estava próximo e que teve a vida prolongada graças a uma
decisão tomada num momento que, aparentemente, não tinha o menor sentido.
Se não fosse aquela conversa, a família do seu
marido faria parte do percentual de 50% das famílias baianas que não autorizam
a doação de órgãos. E seu marido não teria ajudado pelo menos uma das 3.000
pessoas que estão à espera de um transplante na Bahia.
Ela terminou de arrumar sua bolsa e ativou o despertador do celular. Amanhã acordaria cedo, e aproveitaria a data, 27 de setembro, Dia Nacional de Doação de Órgãos, para conversar com algumas famílias sobre o tema e conscientizá-las da importância dessa decisão. Foi dormir pensando no seu marido.
Ele era jovem, inteligente, um bom amigo, um bom marido. Com ele, ela passou os melhores dias de sua vida. Adorava lhe ensinar sobre as coisas, sempre lhe contava alguma curiosidade sobre os temas mais diversos. E mesmo que ele não estivesse mais presente, havia lhe ensinado uma das maiores lições de sua vida. A morte não é o fim. Existe vida após a morte.
Ele era jovem, inteligente, um bom amigo, um bom marido. Com ele, ela passou os melhores dias de sua vida. Adorava lhe ensinar sobre as coisas, sempre lhe contava alguma curiosidade sobre os temas mais diversos. E mesmo que ele não estivesse mais presente, havia lhe ensinado uma das maiores lições de sua vida. A morte não é o fim. Existe vida após a morte.
2 comentários:
Este dia Nacional de Doação de Órgãos caiu bem no dia de Cosme e Damião! Não sabia. Grato pela informação. Como se faz para tornar-se doador? Por que as pessoas têm receio? Como é nos outros países? O assunto rende novos textos futuramente.
Realmente, esse assunto rende muito. E eu sempre tive curiosidade com relação a ele e sempre fui declaradamente uma doadora. A única pergunta que sei te responder é que para ser um doador a pessoa tem que avisar sua família de sua decisão, pois será ela que vai autorizar a doação depois que a pessoa morrer. Existe uma forma de se declarar doador através do Facebook. Essa reportagem explica como fazer: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/07/saude-e-facebook-criam-ferramenta-para-incentivar-doadores-de-orgaos.html
Espero ter ajudado (:
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