Clara
foi convidada por Edu para jantar na casa dele e decidiu caprichar para
impressioná-lo, eles tinham sido apresentados por um amigo em comum em um
evento esportivo. Ela foi ao cabeleireiro mais requisitado da cidade, maquiou-se
de forma melindrosa, escolheu um vestido potencialmente atraente, calçou os
seus sapatos, de salto mais alto, pôs um par de brincos longos e uma dosagem
irresistível atrás da orelha de perfume francês.
Quando
chegou ao apartamento do Edu foi recebida com rosas azuis, uma das mais raras, ela
ainda ficou impressionada com o cenário fabricado por ele: luz discreta, música
em um tom suave e incenso com aroma de flores do campo. Ao entrar na sala de
jantar, ela foi conduzida até a mesa iluminada com velas, Edu serviu-lhe
champagne e os dois ainda dançaram. Ao sentar-se, radiante, Clara percebeu que
ele estava usando um perfume que ela gostava muito. Todos os seus sentidos –
visão, audição, tato e olfato – estavam “apaixonados” no grau mais elevado.
Conversaram
muito sobre o que estudavam, sobre o trabalho dela e o que cada um tinha vivido
durante o dia. Edu ouvia atentamente, sorrindo, olhando-a nos olhos e
incentivando-a a falar mais. Clara se sentia completamente arrebatada e
entretida por aquele cara supostamente atencioso e sensível – tão diferente do
último que tinha conhecido. Supôs por um momento que ele sentia realmente o que
demonstrava.
Em
linguagem educada, esse cenário é chamado de um romântico jantar à luz de
velas. Mas na realidade trata-se de uma completa fabricação de inverdades dos
dois lados para tentar obter vantagens pessoais. Champagne, luz discreta e
música suave não faziam parte normalmente do estilo de vida de Edu, o tema usual
de sua conversa era futebol. Toda essa montagem era uma trapaça. Edu queria
muito aumentar a sua diversificada lista de ficantes. Tinha experiência
suficiente para saber que, montado o cenário e preparando o clima do jeito que
fizera, a chance de obter de Clara o que queria, era muito maior.
Clara,
por sua vez, se enfeitou, se arrumou e se empenhou em estimular aquela relação,
porque queria muito dar uma resposta ao antigo namorado que tinha lhe trocado
por outra. Porém, ela conhecia o currículo do seu novo pretendente e sabia que
ele estava apenas representando, que tinha apenas um sentimento por ela, mas
ainda assim o fez acreditar que ela era inocente e de que nada sabia. Edu
também não era bobo, lembrava bem de que Clara estava magoada com o antigo
relacionamento e que se vingaria de quem lhe entristeceu na primeira oportunidade
que lhe aparecesse, a chance era ele.
Pode-se
dizer que tudo o que falaram e fizeram naquela noite foi em busca de uma
vingança e uma companhia amorosa, ambos pensaram no beneficio pessoal. Mas
apesar de se divertirem e curtirem o encontro, a noite toda, em resumo, foi
baseada em mentiras e enganos. Foi construída ali uma relação paralela entre
ilusor e iludido. Confrontados com essa verdade elementar, ambos negaram. Com
palavras distintas, afirmaram que dosadas porções de ilusão interessa a todo
mundo.
Agora
eu te pergunto: é válido um amor fugaz? A mentira pode ser licita se tiver um
efeito positivo a quem for contada? Toda verdade é uma mentira para quem não
acredita nela? Tudo que se acredita, torna-se uma verdade mesmo que seja uma
mentira? A sua resposta é a conclusão do meu texto.
Um comentário:
No primeiro instante se a mentira lhe favorecer não há quem diga que não vai ver com bons olhos. Mas com a experiência que adquirimos ao longo dos anos devemos lembrar que a mentira que um dia é verdade depois voltará a ser mentira, por ser uma ilusão.Portanto, apesar de certas vezes a verdade não te agradar, se te fizer mal será de imediato e você aprenderá conviver com ela,já quando a mentira deixar de ser verdade e voltar a ser ilusão você terá sérios problemas em conviver sem ela.
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