O estudante de jornalismo não precisa
se formar para entender o poder que o jornalista tem em mãos. Na metade do
curso, a importância de saber lidar, da forma correta, com esse poder de
influenciar o pensamento de uma quantidade enorme de pessoas, já está mais do
que clara. Desse modo, quem é jornalista aprende, desde sua formação, que deve
tomar cuidado com o que publica e com a opinião que expressa.
No entanto, diversos fatores podem ter
levado o ex-diretor de redação da Veja, e atual colunista da revista, José
Roberto Guzzo, que tem muitos anos de experiência na profissão, a publicar em
sua coluna um texto que expressa sua opinião homofóbica sobre temas que
envolvem a homossexualidade. “Parada gay, cabra e espinafre”, publicado nesse
domingo (11), relaciona orientação sexual, a hortaliça preferida do Popeye e um
animal doméstico, como se houvesse algo em comum entre os três.
O texto, que se transformou em um dos
assuntos mais comentados nas redes sociais desde sua divulgação, apresenta uma
visão homofóbica de um jornalista, baseada em argumentos sem fundamento. Guzzo
defende, entre outras coisas, que se os homossexuais querem ser tratados com
igualdade, eles devem parar de lutar por tratamento especial, como, por exemplo,
em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. “Um homem também não pode
se casar com uma cabra, por exemplo; pode até ter uma relação estável com ela,
mas não pode se casar”, ele argumenta no texto, comparando zoofilia a
homossexualidade.
Todas as pessoas têm direito à liberdade
de expressão, por mais fora da realidade que sejam suas opiniões. Mas é preciso
lembrar que se trata da opinião de um jornalista conceituado, veiculada em um
dos principais veículos de comunicação do país. É
claro que qualquer tipo de alteração no conteúdo desse texto poderia ser
considerado censura, mas chega a ser absurdo que um jornalista e uma revista
divulguem esse tipo de conteúdo sem apresentar, no mínimo, argumentos lógicos.
E foi graças à liberdade de expressão,
que o Deputado Federal (PSOL-RJ), Jean Wyllys, pôde publicar em seu blog uma
visão diferente da apresentada por Roberto Guzzo. No texto intitulado “Veja que
lixo!”, publicado na segunda-feira (12), Jean, que é também jornalista, esclarece
a maioria dos argumentos absurdos propostos por Guzzo. Ele defende a luta do
movimento LGBT e o compara ao movimento negro, uma comparação muito mais
realista do que as feitas pelo colunista da Veja.
É preferível ler o texto de Jean ao
texto de Guzzo. Enquanto o colunista faz apologia à homofobia em seu texto,
tratando a violência contra homossexuais sem considerar os motivos que levaram
a tal violência, o texto do deputado busca apenas esclarecer e criticar de
forma inteligente as idéias errôneas apresentadas anteriormente.
No início do seu texto de repudio,
Jean Wyllys diz que pensou em não responder à coluna de Roberto Guzzo “para não
ampliar a voz dos imbecis”. Mas, ainda bem que ele o fez, pois assim como as
pessoas têm direito à liberdade de opinião, elas têm direito a ter conhecimento
sobre as formas diferentes de pensar determinado assunto.
Devem ter existido aquelas pessoas que
preferiram o ponto de vista do colunista conceituado ao do deputado,
declaradamente gay e ganhador de um reality show. Entretanto, os temas relacionados
à homossexualidade merecem o devido respeito, algo que não receberam no texto
do colunista. De modo que, vozes como Jean
Wyllys são as que merecem ser ampliadas. “Eu não espero pelo dia em que os
homens e mulheres concordem, mas tenho esperança de que esteja cada vez mais
perto o dia em que as pessoas lerão colunas como a de Guzzo e dirão ‘veja que
lixo!’ “, disse Jean ao finalizar seu texto.
2 comentários:
Adorei o texto, corajoso!!! Falou aquilo que todo mundo pensa e que muitas vezes não tem coragem de falar. Os direitos são iguais e ninguem deve ter privilégios. Parabéns Roberto Guzzo!!!
Por que removeram o texto do Roberto Guzzo?
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