Ela sai da faculdade, atravessa a
passarela e espera no ponto de ônibus. Em pouco tempo surge aquele que a
levaria para o lugar desejado e ela entra no transporte coletivo. Entrega seu
passe estudantil ao cobrador e escolhe sentar no terceiro banco da frente do
ônibus, próxima a janela. O vento sopra em seu rosto e o ônibus, com poucos
passageiros, segue seu caminho.
De repente, ela sente um leve
chute em sua perna esquerda, olha para o lado e vê um homem, sentado em um
banco do outro lado do corredor. Supõe que ele deveria ter tropeçado na sua
perna, talvez, apesar da distância, e volta a olhar para a janela. Mas o pé do
homem toca sua perna novamente e ela volta seu olhar para ele. É então que ela
compreende a situação.
O homem, aparentando ter entre
trinta e quarenta anos de idade, olha para os lados enquanto suspende sua
camisa pólo listrada. Com o movimento rápido ele mostra o que seria,
supostamente, uma arma escondida na sua calça jeans. A garota olha, sob seus
óculos de sol, o homem que continua a olhar disfarçadamente para os lados e lhe
pede seu celular.
Sua boca fica seca, quando
percebe estar realmente sendo assaltada. Mentindo para o ladrão, ela diz que
não tem celular, o que de certo modo era verdade, já que ela tivera dois
celulares roubados naquele ano, e no momento usava o celular emprestado por sua
madrinha. Quando ele pede para que ela o entregue seu dinheiro, mais uma vez
ela mente, e diz só possuir os passes estudantis.
O homem a olha aborrecido e
pergunta com descrença explícita se ela realmente não tinha um celular. Cada
vez mais nervosa, a garota percebe que não poderia evitar o terceiro roubo de
celular do ano, e pede para o ladrão se, pelo menos, poderia retirar os chips
do aparelho. O ladrão consente e, apressadamente, senta-se ao lado da garota,
deixando-a ainda mais acuada.
Ignorando o gosto metálico que
surge em sua boca, a garota pega o celular da bolsa e retira os chips com suas
mãos trêmulas. Após receber o aparelho, ele ainda pede os passes estudantis que
a garota disse possuir e leva também o anel que ela ganhara da sua avó. Após
uma última ameaça o homem pede que o motorista pare no ponto seguinte,
localizado em frente a um shopping, e desce do transporte, como um passageiro qualquer.
A garota observa o ladrão passar
ao lado do ônibus, indo em direção ao shopping. As lágrimas teimam em saltar
dos seus olhos, enquanto guarda os chips na sua bolsa. O cobrador toca em seu
ombro e pergunta se ela acabara de ser assaltada. Assente com a cabeça e começa
a ouvir os comentários surpresos dos outros passageiros, que não haviam notado
a ação.
Soteropolitana, baiana e moradora
do país vice-líder em roubo de celulares. De acordo com estudo de uma empresa
especializada em segurança da informação, F-Secure, divulgado esse ano, 25% dos
brasileiros já teve seu celular roubado. O índice altíssimo do Brasil só perde
para a Índia, onde as taxas de roubo são de 35%. E, mais uma vez, ela passava a
fazer parte da porcentagem absurda e revoltante, que reflete a falta de
segurança do seu país.
Dias depois, ela sai da
faculdade, atravessa a passarela e espera no ponto de ônibus. Em pouco tempo
surge aquele que a levará para o lugar desejado e ela entra no transporte
coletivo. Entrega seu passe estudantil ao cobrador e, nervosa, observa os
passageiros enquanto escolhe um lugar, aparentemente seguro, para sentar.
Durante todo o percurso ela continua olhando para os lados atentamente, sem seu
celular, sem seu anel e sem sua tranquilidade.
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