Se a Rio+20, através dos chefes de Estado e de Governo, não
cumpriu com as atividades básicas pré-estabelecidas, nós, sociedade civil, nos
mantemos incansavelmente decididos a lutar contra o projeto de desenvolvimento
que rege o nosso sistema sóciopolítico.
Ontem assisti Belo Monte –
Anúncio de uma guerra, de André D’Elia, o documentário foi lançado pela
internet em 17 de junho de 2012, ou seja, durante o período da Rio+20. As
filmagens e as investigações condenam a obra que está sendo imposta pelo
governo de forma irresponsável e opressora, já que não houve legitimidade
conferida pela escolha dos índios nativos e da população sobre a instalação da
usina.
O filme é uma disputa de conceitos e ideologias entre quem mora nas
grandes cidades e acha que o recurso hídrico oferecido pelo nosso espaço físico
não pode ser desperdiçado com os índios e moradores que reivindicam através dos
seus sentimentos a história de suas vidas.
Para quem não lembra, a polêmica em torno da construção da usina de Belo Monte na bacia do rio Xingu, em
sua parte paraense, é uma obra que invade e desagrega sem pedir licença o
cotidiano e o intinerário habitual das populações locais, ignorando os direitos
de agricultores, indígenas e da população ribeirinha, em especial, aqueles
domiciliados em Altamira, cidade vizinha a obra, que já dura mais de 20 anos.
Belo Monte –
Anúncio de uma guerra, é um projeto integralmente independente e coletivo, o grupo foi
formado por comunicadores sociais, cineastas, economistas e advogados
insatisfeitos com a realidade imposta.
O documentário foi gravado durante três caravanas à região do rio
Xingu, Altamira e arredores, além de São Paulo e Brasília. Foram reunindos
impressionantes registros da obra da hidrelétrica, além de entrevistas
importantes de lideranças religiosas, como o cacique Raoni, que esperaram um
longo tempo para falar com a presidente Dilma Rousseff. Além de políticos
locais favoráveis ao empreendimento com estrutura desmesurada e extraordinária.
O exemplo de mobilização se deu justamente pela falta de
investimento financeiro para a edição e finalização do filme, já que não havia
nenhum tipo de acordo ou financiamento governamental ou empresarial. Houve
então a necessidade de envolver a sociedade na produção do documentário, por
isso o grupo lançou em novembro de 2011 através de uma plataforma específica
via internet, uma campanha para promover um arrecadamento coletivo.
Qualquer cidadão que questionasse ou condenasse a política da obra
da hidrelétrica pôde contribuir. Os interessados puderam assistir ao vídeo
promocional, doar valores para a edição e a finalização e como contrapartida ou
até mesmo uma forma de agradecimento ou reconhecimento pela colaboração,
receberam créditos e acesso antecipado ao teor do filme produzido.
Essa foi sem dúvida, uma das mais criativas e contundentes
iniciativas independentes de repúdio as posturas passivas e conformistas, foi
um ato político da própria sociedade, um apelo pelo acesso à informação e pelo
direito de opinar nas decisões do nosso país, que se diz ser democrático. Por
isso o meu texto de hoje é uma homenagem à criatividade e a valorização do
sentimento de cidadania dos produtores desse trabalho.
Assista o documentário no YouTube clicando aqui
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