Um
povo que não conhece a sua história está condenado a repetir os erros. Por
isso, se a Comissão Nacional da Verdade, comissão essa que visa investigar
violação dos direitos humanos ocorridas no Brasil, entre 1946 e 1988, trouxer à
tona a “caixa preta” da ditadura militar, terá ajudado a consolidar o
sentimento democrático e a criar imunidade para que esse tipo de atrocidade não
se repita. Quanto ao resgate da nossa memória social e política, estamos muito
aquém em relação aos outros integrantes do Cone Sul (Argentina, Chile, Paraguai
e Uruguai).
Se
o Congresso não alterar a Lei da Anistia, os responsáveis por torturas e
assassinatos de presos políticos não poderão ser levados aos tribunais. Esta
situação resulta da absurda interpretação da lei feita recentemente pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), beneficiando os integrantes do aparelho
repressivo.
Quando
sancionada a Lei de Anistia, em 28 de agosto de 1979, militantes que
participaram do que os militares chamaram de “crimes de sangue” (ações que
resultaram em mortos ou feridos, mesmo que em troca de tiros) foram excluídos
da anistia e continuaram na prisão. Desde abril do ano passado, por
interpretação do STF, torturadores, estupradores e assassinos de presos
políticos estão entre os beneficiados pela anistia. Ou seja, a vida
interrompida desses militantes foi simplesmente decretada como paradeiro
inexistente ou morte sem explicação.
Para
que a Comissão de Justiça cumpra seu papel, uma condição é importante: a
abertura imediata dos arquivos dos órgãos das Forças Armadas usados na
representação política. Não pode ser aceita como justificativa razoável que
essa documentação tenha sido queimada. Não se destroem arquivos, a não ser em
situações extremas, e pelo que eu sei, isso não ocorreu no Brasil. No caso de
destruição de documentos oficiais, é preciso haver ordem por uma autoridade
oficialmente reconhecida. Onde está essa tal ordem, quem a deu e a que tempo
ela foi dada?
Os
arquivos podem mostrar quem barbarizou, torturou e matou, quem deu ordens para
tal crime e onde estão os restos mortais dos desaparecidos, além de tornarem
público quem financiou a repressão política. Se, por ora, os responsáveis por
esses crimes não podem ser devidamente punidos, que, pelo menos, o país conheça
suas identidades. Dilma Rousseff, além de ser a presidente da República, é a
comandante chefe das Forças Armadas. Cabe a ela garantir o acesso a esses
arquivos.
Devem
ser conhecidos também, e vir a público, as determinações confidenciais do
período militar. Por mais incomum que isso pareça, na ditadura haviam decretos
que eram representados como regras, mas não eram divulgados. Chegou o momento
de torná-los públicos. É necessário apurar os crimes de agentes do Estado
cometidos em nome do próprio Estado.
Por
mais que afirmem e ratifiquem a ideia de que a fronteira do regime militar já
fora ultrapassada, de que a maioria representativa da população brasileira
desconhece esse período sociopolítico da história recente do nosso país ou até
de que já houve o perdão tanto para os militares, quanto para os militantes, é
fundamental para a construção da democracia que a verdade seja estabelecida. É
mais que importante que os crimes dos dois lados, agentes do Estado e
militantes dos grupos guerrilheiros sejam exemplarmente punidos. Não podemos
traçar um futuro digno sem corrigir os encalços de impunidade do passado.
Um comentário:
Caro Vinícius: O problema é que o Brasil, já naquela década, mostrava sua cara: oportunista, interesseira e demagogica. Todos aplaudiram a ANISTIA AMPLA, GERAL E IRRESTRITA. Tudo para fugir à verdade do confronto. A própria esquerda empunhou a bandeira. Uniram-se todos em torno de quem? de Sarney. Curiosamente estão juntos de novo. Quem fugiu da verdade agora a quer? Enquanto isso, em qualquer país de vergonha, os ditadores e torturadores ainda estão sendo presos. E os antigos ativistas estão confortavelmente sentados sobre o poder. BRASIL, AME-O OU DEIXO-O. Ninguém o amou, nem tampouco o deixou.
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