Seu Roni é o porteiro da vila onde eu moro, o
tipo do cara que gosta de dividir as suas histórias. Um dia desses, ele me
contou que tem dois sobrinhos, um é cientista político e o outro é estocador em
uma fábrica de alimentos. O curioso é que o sobrinho estocador, tinha notas
excelentes na escola e sempre ouvia elogios pelo seu potencial. Queria ser
engenheiro. Todo mundo falava que ele seria um grande profissional. Já o irmão
cientista político, que só passava de ano com dificuldade e nunca teve notas
tão boas quanto as do irmão, sempre foi muito aplicado.
Já no final do ensino médio, o sobrinho por um
momento até afirmou que antes do vestibular, preferia curtir a juventude, já
que era bem inteligente ao ponto de decidir o futuro profissional quando
quisesse. Terminou se perdendo no tempo, já que não realizou o sonho de ser
engenheiro. Seu Roni falou que o sobrinho foi enganado pela ilusão dos elogios
que tanto adorava ouvir.
Na vida, além da genética, trazemos as marcas da
educação que recebemos, o que faz cada pessoa ter um perfil único. Mas há uma
marca que está presente em quase todo mundo, o prazer em ouvir um elogio.
Quem
dispara um elogio, geralmente não tem como medir a intensidade dos impactos
causados no receptor no momento exato em que a “flecha acerta o alvo”. Pra quem
ouve, pode haver uma ausência total de raciocínio, uma ação reprovada pela
razão. O elogio é um discurso tão perigoso, que deveria haver um manual de
instrução tanto para quem pronuncia, quanto para quem recebe.
Eu não quero dizer que não devemos cativar o
reconhecimento das nossas habilidades e virtudes, não há nada de errado no
elogio verdadeiro, muito pelo contrário, se não houver excessos, essa é uma
atitude justa e natural nas nossas vidas. Eu recomendo que você encare o elogio
não apenas como uma forma de contemplação, mas que dali você também enxergue
uma forma de incentivo e ensinamento em busca de um melhor rendimento.
Apesar de nos fazer bem feliz, o elogio pode
alimentar demais o nosso ego, a ponto de dar vazão à prepotência e a soberba,
nos levando ao orgulho. E é justamente aí que mora o perigo! Com a perda da
humildade, vem à acomodação e consequentemente a perda da vigilância.
Minha tia fala que “o elogio é um beijo na alma”,
mas vocês lembram a forma que Judas Iscariotes identificou Jesus Cristo aos
soldados que vieram prendê-lo? Pois é, às vezes um beijo pode nos trair. O
elogio pode ser um remédio para a autoestima, mas também um veneno letal para
as nossas vidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário