Junto com a crise, vem a raiva do
torcedor, que paga os ingressos cada vez mais caros e vê seu time perder sem a
menor dignidade. Quando a raiva aflora, não vai em direção as tribunas de
honra, onde estão os cartolas (ou pelo menos onde deveriam estar). As vaias,
xingamentos e protestos se voltam para o campo, contra os jogadores. Ou seja, o
dirigente dá calote nos atletas, que por sua vez jogam mal e irritam a torcida,
que protesta contra os jogadores. Quem se deu bem na história? Se você
respondeu o dirigente caloteiro, acertou! E daí sai a pergunta: Porque os
jogadores não prejudicam quem lhes prejudicou?
Existem várias formas de fazer
isso, uma delas é a recusa em entrar em campo, que força um pagamento imediato,
uma vez que o W.O. (without opponent – sem adversário) é passível de
rebaixamento para última divisão. O problema dessa solução é que se o clube
realmente estiver sem dinheiro, independente de o dirigente ser corrupto ou
não, a equipe cai, a torcida continua irritada e o rebaixamento mancha a
carreira de qualquer atleta.
Então vem uma solução que eu
considero a mais honesta: Transparência total. Antes do jogo, os jogadores
deixam bem claro para torcida o que se passa nos bastidores do clube, dizendo
que salários e benefícios estão atrasados, e desde quando estão sem receber.
Pronto, uma simples declaração e os atletas já vão ter o apoio do torcedor, e
sabendo o que se passa não colocará o pé no estádio.
Assim como o pagamento surge com
as derrotas, uma vez que a torcida se afasta, a renda cai e os dirigentes se
desesperam, o pagamento viria ainda mais rápido, já que grande parte da
torcida, principalmente quem não é sócio-torcedor, se afastaria do estádio.
Talvez apenas torcidas organizadas, que em vários casos tem obscuras relações
com as diretorias de clubes, que inclusive oferecem ingressos grátis, entraria
no estádio como se nada estivesse acontecendo. Todavia, não são eles quem dão o
lucro.
O foco do torcedor comum sempre
foi e sempre será ver o sucesso do time, de preferência no estádio. Então mesmo
deixando de ir ao campo, ele não abandonará o time, e protestará da forma que
achar conveniente. Esse é o segundo fator interessante dessa forma de protesto,
colocando a “boca no trombone”. Além dos jogadores forçarem seu próprio
pagamento, uma vez que a torcida começaria a deixar de ir ao estádio, a onda de
protestos colocaria o cargo do dirigente em xeque. Em muitos casos, poderia até
vir à democratização de muitos clubes que são verdadeiras ditaduras.
Protesto realizado pelos jogadores do América/RJ. Na faixa eles dizem "Estamos abandonados, mas jogamos por vocês!" | Foto: Carlos Júnior/FutRio |
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