Banhada pela Baía de Todos os Santos e uma homenagem ao Cristo
Jesus, com águas mansas e o céu tingido por um azul luminoso, rica
em artesanato, história e com vestígios que indicam a existência de populações
pré-coloniais, coloniais e pós-coloniais. Miscigenação cultural e sincretismo
religioso singular, patrimônio histórico e cultural da humanidade e ao mesmo
tempo roteiro turístico particular dos seus habitantes, essa é a nossa Salvador,
primeira capital do Brasil, que amanhã, 29 de março de 2013, completa 464 anos
de fundação.
Apesar da manifestação de
louvor à Salvador, é fundamental lembrar que vivemos em uma realidade onde são
muitos os problemas enfrentados por quem mora aqui. Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já somos mais de 2,7 milhões e a
nossa capital apresenta problemas típicos de qualquer metrópole, com
crescimento desordenado e ocupação urbana deficiente. Entre as questões,
engarrafamentos cada vez mais constantes, ocupação de encostas, deslizamento de
terra, favelização descontrolada e uma imperfeita distribuição de renda. Mas o
pior de tudo é perceber a frustração compartilhada em cada olhar ou em cada coração,
ruindo nossas expectativas e o princípio comum de que o passado e o presente são as
chaves da ratificação do futuro.
Deixando um pouco de lado a tristeza
causada pelos problemas, amanhã é dia de celebração, dia de lembrar que moramos
em um cidade especial. Lembrar que apesar das adversidades, a aniversariante é
multicolorida, ao mesmo tempo que é rubro-negra, também é tricolor. É
conservadora, até os dias de hoje a estrutura física urbana original é do século
XVI, a configuração urbana atual é a mesma que se vê na cartografia do fim do
século XVII e começo do XVIII. É tropical, com a maior área litoral do país.
Outro adjetivo que caracteriza bem o sentimento por Salvador é a singularidade, vocês conhecem alguma outra cidade de dois andares? Sem contar o grande número de sobrados seculares. Aqui é também a capital da alegria, com a maior festa popular do mundo. É saborosa com os seus quitutes, acarajé, abará, moquecas, bolinho de estudante e o bom e velho picolé da Capelinha. Com tantos jardins – Alá, Apipema, Armação, Brasil, Brasília, Lobato, das Margaridas, Santo Inácio e Nova Esperança - a cidade é verdadeiramente a extensão das nossas casas.
Tudo em Salvador é especial e diferente. Aqui não existe sinais de trânsito, existem “sinaleiras”. Que pelada nada, domingo de manhã é dia do “baba”. E se no “baba” o cara faz muitos gols, ele é “brocador”. Frescura é “chibiatagem”, bagunça é “mulequeira”, as coisas não são legais, são “massa”. E se em outros lugares os amigos se reúnem para confraternizar e encher a cara, o soteropolitano “come água”. No café da manhã não pode faltar o “pão de sal”, e se não conhece a pessoa do lado, então o nome é “coisinha” mesmo. Um soteropolitano não é talentoso, ele é “miserê”. O show pode ser de axé, pagode, rock, samba, arrocha, não importa, no final todo mundo diz que vai para o reggae.


2 comentários:
Sucesso!!!
Gostei da caracterização dos costumes soteropolitanos, Vinicius. Só lamento por me encaixar na estatística do olhar frustrado quanto à cidade.Assim como a configuração cartográfica,acredito que a cidade, como um todo, estacionou no tempo, entre os séculos XVII e XVIII, na qual persistem as mesmas deficiências e carece sempre de bons governantes..
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