Um dos meios utilizados pelo
jornalismo em sua missão de informar à sociedade o que for de seu interesse é
a realização de levantamentos e pesquisas. Se aposta em assuntos que
provavelmente têm uma notícia escondida, ou ações que imagina-se um resultado negativo
passado algum tempo. São agrupados dados que podem se transformar em grandes
reportagens, durante meses e até anos.
Uma dessas reportagens foi
publicada neste domingo, 5 de maio, pelo Jornal O Globo(RJ), sendo escrita pelo
jornalista Demétrio Weber. A capa do jornal destacava o fato de que 45% dos
domicílios que recebiam o auxílio no início do programa, em 2003, continuam
recebendo, totalizando mais de 522 mil benefícios mensais. A Bahia é o estado
com a maior concentração de beneficiários desde o começo, mais de 83 mil. A
reportagem ressalta que "não é possível afirmar se os 55% restantes que
estavam na lista original dos beneficiários deixaram de vez o programa ou
retornaram mais tarde". As saídas podem ter sido também por não cumprimento
das exigências do programa, e também por filhos que completaram 18 anos.
Reprodução: O GLOBO |
Um outro enfoque da matéria
também me preocupou, tanto que motivou esse texto: "Jovens que cresceram
em lares beneficiados têm filhos e passam a ganhar auxílio". Ou seja, o
programa começou a torna-se um ciclo, onde um beneficiário do programa tem uma
filha, que cresce e tem uma outra criança,
tornando-se outra beneficiaria.
Antes de qualquer coisa, é
fundamental deixar de lado a visão preconceituosa de que o programa é uma Bolsa
Esmola. Muitas pessoas estão vivas e em condição digna por conta disso. Pessoas
que nunca tinham sido olhadas pelo país passaram a viver de modo um pouco
melhor. Além disso, sabemos que aqueles que vivem apenas com o dinheiro do
programa ainda passam dificuldades, o que faz com que muitos dos que recebem o auxílio corram atrás de ganhar dinheiro de outras formas, no
trabalho informal.
Atualmente, segundo O Globo,
cerca de 50 milhões de pessoas, de quase 14 milhões de famílias, recebem o
auxílio. No início eram apenas pouco mais de um milhão de famílias. Um grande
crescimento, num cenário onde o Bolsa Família, agora comprovadamente, não
prepara as pessoas para deixarem o programa, tendo em vista a grande quantidade
de famílias que nesses dez anos não foram preparadas a caminhar sozinhas.
Apesar de necessário, o Bolsa
Família caminha num sentido de quem vai se eternizar, quando deveria ser um
paliativo (por falar nisso, leiam também o texto "País dos Paliativos Eternos"). Prova disso são as
eleições do ano passado, onde até mesmo pessoas que sempre foram contra o
programa, diziam que iriam mantê-lo. Não num tom de reconhecimento da
importância, e sim numa ação populista e eleitoreira, que perpetuará o programa
durante anos, agradando uma população ignorante que não compreende que ela pode
ir além disso, cobrando uma educação que lhe dê condições de possuir boa
formação profissional, um emprego bacana e salário decente.
Na reportagem, o Secretário
Nacional de Renda de Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, Luis Henrique da Silva de Paiva, disse que o programa
"contribui para que o público atendido caminhe com as próprias pernas, na
medida em que exige a frequência escolar das crianças".
Será que frequência escolar virou
sinônimo de qualidade na educação? Apesar das exceções, todos nós conhecemos
exemplos de escolas públicas em péssimas condições, profissionais mal
remunerados e sem boa preparação. Inclusa nessa frequência escolar estão até
jovens que vão ao colégio se drogar, analfabetos funcionais e seres humanos que
crescem sem preparação nenhuma para enfrentar as dificuldades impostas pela
vida. Aliás, durante essa frequência escolar são geradas crianças que em breve
serão beneficiadas pelo programa.
O cenário mostrado pela reportagem
demonstra que esse programa, que poderia ser o grande rumo de uma mudança do Brasil, garantindo o sustento e a educação, vai num rumo de
eternidade. Não existem metas de quando o projeto deseja reduzir drasticamente número de beneficiários, onde a grande maioria deles passe a
viver de modo autossuficiente. Manter as pessoas apenas recebendo, por mais
décadas gera votos e é do interesse de muitos. Não é à toa que essa reportagem
só saiu após recursos do jornal que fizessem valer a Lei de Acesso à Informação. A divulgação desses dados é uma vitória da sociedade.
O jornal divulgou a publicação do
impresso na internet, através de várias matérias. Confira os links abaixo:
Lista de beneficiários do Bolsa Família foi obtida após recursos
Secretário afirma que programa não cria dependência
Mapa: concentração de beneficiários desde outubro de 2003
Perfil de pobreza muda em dez anos do programa Bolsa Família
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