Sabe quando
crianças estão jogando alguma coisa, e uma começa a perder com frequência e ao
invés de tentar aprender, logo desiste? Esse é o comportamento do brasileiro
quando falamos de acompanhar esporte. Encontrar quem curte e assiste um esporte
por verdadeiro prazer, independente do sucesso de brasileiros, está ficando
raro. Esse abandono do público resulta dentre outras coisas na queda da
formação de novos atletas, falta de patrocínio, sem falar da decadência contínua
enfrentada por alguns esportes. Das quadras, pistas, ringues e piscinas,
podemos tirar algumas lições de como os resultados influem em nossa forma de acompanhar o esporte.
TÊNIS E
AUTOMOBILISMO EM QUEDA
Guga ao vencer Roland Garros pela 3ª vez / Getty Images |
Com isso, a
motivação de quem poderia ter sido um novo grande talento, ficou num futuro que
não veio. No ranking mundial de jogadores da ATP (Associação de Tênis
Profissional), o melhor brasileiro é Thomaz Bellucci, que ocupa apenas a 40ª
posição. No ranking feminino o desempenho é ainda mais preocupante com a 118ª
posição para Teliana Pereira, a brasileira melhor colocada.
Quem também
está indo nesse caminho é a Fórmula 1, que apesar de modernizar-se e ficar mais
emocionante a cada ano, está perdendo espaço no país, já que desde Senna em
1991 um título mundial da categoria não vem para o Brasil. Na última corrida,
disputada na Malásia nesse domingo, 24 de Março, Felipe Massa largou em 2º e
acabou terminando em 5º. Então pergunto, se ele ganha? Acredito que seria um
alvoroço o domingo inteiro na TV, redes sociais e capas de jornal no dia
seguinte. Ele sequer foi ao pódio, mas a corrida foi boa, valeu a pena acordar
4h45 da madrugada de um domingo para ver a disputa entre Sebastian Vettel e
Mark Webber, sendo ambos da mesma equipe, inclusive para repensar, porque os
brasileiros não têm a mesma coragem.
Apesar da
Stock Car e de outras categorias que contam com brasileiros, o desgaste que o
Brasil foi tendo na Fórmula 1, somada a administrações ruins, resultam num
cenário grave no automobilismo brasileiro, como falou o bicampeão mundial
Nelson Piquet, em entrevista recente ao SporTV: “Não há automobilismo no
Brasil. Há muita desorganização. Ninguém se mostrou capaz, no cenário atual, e
estamos piorando cada vez mais. Daqui a alguns anos, não haverá um
representante brasileiro competindo na Europa em categorias que podem levar à
F-1”.
O RENASCER
DO BASQUETE E O SUCESSO CHAMADO VÔLEI
A geração de
Oscar, Paula, Hortência e Janeth foi brilhante. O basquete masculino ganhou os
Jogos Pan-americanos de 1987 dentro dos EUA e o feminino venceu Cuba nos jogos
de sua capital, Havana, em 1991. Somado a isso, a prata e o bronze nos Jogos
Olímpicos de 1996 e 2000, respectivamente. Mas depois disso veio um
geração perdida.
Momento épico em que Hortância e Paula recebiam o ouro panamericano das mão de Fidel Castro / Foto de autoria desconhecida |
Já com o
vôlei o caminho foi inverso, ele foi gradualmente ascendendo, até ser, acredito
eu, o segundo principal esporte do país. O esporte foi ganhando espaço no final
da década de 80 e se mostrou de fato no último dia das Olimpíadas de Barcelona
em 1992 – curiosamente no dia em que eu nasci – quando a seleção masculina
conseguiu a primeira medalha de ouro do país em esporte coletivo. Mais que
isso, o vôlei conquistou a simpatia do país. Daí foi só crescimento, sendo hoje
uma seleção com dois ouros e três pratas olímpicas, três títulos mundiais e
nove da liga mundial.
Assim como
no masculino, o reconhecimento ao vôlei feminino do Brasil só veio depois de um
título olímpico, em 2008. No começo dos anos 2000, quando a seleção masculina
não parava de vencer, no lugar do apoio, a seleção feminina recebia uma chuva
críticas, num imediatismo que visivelmente afetava o emocional da seleção. Com
os dois títulos olímpicos consecutivos, hoje as criticas começam a se voltar
para a seleção masculina, que vive uma dura transição, com a saída de uma
geração de ouro.
Apesar de
tudo, o apoio iniciado em 1992 faz com que hoje o Brasil tenha ligas fortes, no
masculino e no feminino, com o surgimento da Superliga que hoje é um sucesso
com transmissão em horário nobre na TV paga, e transmissão em TV aberta durante
a fase final.
A QUEDA DO
BOXE E A ASCENSÃO DO MMA
Após o crescimento do UFC com a presença de brasileiros, cenas como os títulos de Popó voltarão a ser vistas por aqui? / Foto de autoria desconhecida |
Esse é um
grande exemplo de como a presença brasileira influencia. Caso um brasileiro
emplacasse no boxe logo após a pausa de Popó, será que o MMA cresceria tanto?
Apesar de essas duas modalidades terem muitos admiradores em todo país, o fator
decisivo para a valorização deles é o público que aprecia só se tiver Brasil.
NINGUÉM É
OBRIGADO...
... a
apreciar e assistir todos os esportes, mas se temos aqueles em que há uma
afinidade, precisamos entender que esporte é lazer, portanto, não precisa haver
imediatismo e críticas exageradas. Por mais chato que seja não estar por cima
às vezes, criticar demais prejudica mais que ajuda.
Phelps, "apenas" com as 8 medalhas de Pequim 2008. Ele levou 20 em 3 olimpíadas, se tornando o maior vencedor da história do jogos / Foto de autoria desconhecida |
Vale também
não abandonar uma modalidade que você gosta de ver, porque seu país não tem um
atleta de ponta naquilo. Isso faz com que assistir alguns esportes tenha se restringido
aos Jogos Olímpicos a cada quatro anos. O maior nadador da história, Michael
Phelps, se aposentou no ano passado, e só pudemos assistir ele três vezes: Olimpíadas
de 2004, 2008 e 2012. Quantos talentos brasileiros não poderiam ter surgido, se
fossemos maduros o suficiente para ver e aprender com o sucesso de um grande
atleta dos EUA?
Parece inacreditável
não se falar nada por aqui sobre atletismo, o mais antigo conjunto de
atividades esportivas da humanidade. Ridiculamente nos damos o direito de
criticarmos atletas como Fabiana Murer, do salto com vara, e Maurren Maggi, que
nem com o ouro de 2008 conseguiu impulsionar o salto em distância, que outrora
já brilhou com João do Pulo. Somos um país que se surpreendeu nos Jogos de
Londres com Yane Marques, não com seu bronze, mas por saber que existe um
esporte chamado Pentatlo Moderno.
Somos o país
das próximas olimpíadas, mas não faço ideia de quando seremos um país olímpico.
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