Naqueles minutos não vi
desentendimentos entre motoristas e pedestres, torcedores de Bahia e Vitória,
heterossexuais e homossexuais, ou ainda católicos ou pessoas do Candomblé.
Todos relaxadamente se alimentavam. Comentei com minha mãe, e sabiamente ela
respondeu: “É, mas aqui não tem o pobre”. Junto com o falso mundo perfeito,
caiu-me a ficha: “Aqui – na praça de alimentação - tá bom porque não tem
conflito”. Nos minutos seguintes lembrei-me do outro shopping, que já foi
principal da cidade, mas que hoje é mais frequentado por pessoas de baixa
renda, onde alguns aparentam serem aqueles que vez ou outra nos assaltam.
Foi por esse cenário de
contraste, entre muitos de nós que crescemos ali, e pessoas de outra realidade
que se aproximaram nos últimos anos, usando chinelo, bermuda, regata e boné de
aba reta verde cana, que mudamos de shopping. Talvez não por maldade ou
preconceito, e sim por instinto, estar com pessoas aparentemente mais parecidas
conosco nos transmite mais segurança. Seja lá por qual motivo, não soubemos
conviver com o diferente. Além dos méritos do shopping mais novo, esse é um dos
motivos de seu sucesso.
Voltando para praça de
alimentação, ao meio-dia do último sábado, fico imaginando: Se houvesse algum
tipo de aviso que informasse as características da pessoa da mesa ao lado, qual
seria a reação? Apesar da semelhança com relação ao comportamento e modo de se
vestir, aceitaríamos estar próximos de alguém com opinião inversa a nossa?
Nesse cenário, penso que provavelmente
os shoppings teriam de fazer alas separando as pessoas com opiniões contrarias,
debates acalorados surgiriam. Vivemos numa ditadura de opiniões, cada vez mais
radicais e intolerantes com as outras, que vem por todos os lados. Não cansamos
de dizer que seria chato todo mundo sendo igual, mas agimos como se essa
humanidade idêntica fosse uma meta.
Há exatos 513 anos o “homem
branco” chegava ao litoral do que viria a ser Brasil. Tornamos-nos um povo
mestiço, que parece conviver muito bem todas as suas raízes. Mas, somos um país
semelhante àquela praça de alimentação, estamos muito bem sem conflitos de
ideias, quando surge outra visão de mundo, acaba o que é fundamental: Respeito.
Ninguém é obrigado a concordar com o pensamento alheio, mas respeito é um
principio básico.
Deveríamos caminhar mais
nesse sentido, mas parecemos estar voltando à imposição cultural jesuítica no
Brasil Colônia. Para crescermos enquanto país falta todo mundo descer do salto
alto, olhar a outra opinião não como inimiga, mas como humana. Conversar não é
aceitar ou se rebaixar, é ser educado. Mais meio milênio será preciso para
aprendemos isso?
Um comentário:
Convivemos em uma sociedade repleta de falso moralismo, na qual a praça de alimentação é um ambiente onde todos aparentam estar felizes e sem problemas uns com os outros porque não tem a necessidade de expor suas ideias, fato esse que vai evitar conflitos com os demais, não devido ao respeito,mas por causa do silêncio.
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