Já passou das 21h e ela ainda se
encontra no trabalho. Sentada de frente para o computador e aguardando o chefe
fechar o jornal para que possa ir para casa, ela começa a lembrar de seus
primeiros dias de “foca”.
Da produção de um currículo cheio
expectativas e poucas experiências, até a primeira entrevista bem sucedida,
alguns veículos de comunicação já haviam recusado seus serviços. Mas no
primeiro dia do primeiro estágio, a força de vontade e o interesse em aprender, superaram a inexperiência de quem só tinha feito
reportagens para a faculdade.
Os olhos brilhando com a pauta
que acaba de surgir, o medo de telefonar para delegacias, hospitais,
assessorias de comunicação e outros bichos de sete cabeças. A superação da
vergonha em abordar as pessoas na rua para fazer perguntas escritas num
bloquinho de anotações recém-comprado.
A pressa em escrever com a caneta
Compactor tudo aquilo que é dito pela fonte. As mãos que ainda não conseguem
acompanhar a rapidez das palavras ditas e o olhar que se divide entre uma
pessoa desconhecida e o bloquinho cheio garranchos.
A empolgação em escrever as
reportagens, de colocar em prática toda aquela teoria aprendida na faculdade. O
que? Quem? Quando? Onde? Por quê? Como? A construção do lead com as informações principais. A tristeza em cortar, cortar,
cortar tudo aquilo que foi apurado, para poder exercitar o poder de síntese, algo
nunca foi o seu forte.
O desespero no fechamento da
primeira edição do jornal. A alegria de ver a edição fresquinha. O sorriso ao
apontar seu nome assinando a reportagem. O desapontamento em observar os erros
cometidos. A esperança de cometer menos erros e mais acertos da próxima vez.
Olha para o relógio. Já são mais
de 22h. O chefe ainda não fechou a edição. Ela se mantém disponível para ainda
escrever textos, corrigir erros, escolher fotos. No meio jornalístico “foca” é
o nome utilizado para se referir ao estagiário, ou aquele jornalista
recém-formado, que escorrega de vez em quando, devido à falta de experiência.
Apesar de ainda ser estagiária, sente que tem se afastado cada vez mais da
condição de “foca” à medida que vai ganhando conhecimentos na área e
desenvolvendo sua futura profissão.
Mas, no dia seguinte, ao sujar
suas mãos com a tinta do jornal que acaba de chegar da gráfica, ela ainda vai
olhar para o seu nome impresso ao lado das matérias que produziu. Os olhos vão
brilhar. E ela vai ter aquele orgulho típico de uma “foca” que observa a
primeira reportagem publicada.
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