As canetas delineiam as letras no
caderno, enquanto a professora anota no quadro algumas das revoluções
brasileiras mais recentes. Ela pára de escrever e começa a falar sobre cada uma
delas, analisando motivos e descrevendo situações.
“Então, os jovens foram às ruas,
com os rostos pintados de verde e amarelo, e pediram o impeachment do presidente”, conta a professora. “Depois dos
protestos dos ‘caras pintadas’ e da pressão da mídia, o então presidente,
Fernando Collor saiu do poder”, finaliza.
Olhos brilhando, os estudantes
guardam na memória a imagem dos jovens revolucionários de caras pintadas, bem
como o sentimento de admiração pelos mesmos. A aula de História termina, eles
colocam os cadernos em suas mochilas e voltam para suas casas.
Prosseguem com suas vidas, cada
vez mais imersos em tecnologia, no consumismo, no comodismo. São obrigados a
ouvir críticas sobre sua geração acomodada, que perdeu o sentimento
revolucionário dos caras pintadas e a coragem dos militantes da ditadura.
Convivem menos com seus amigos, a
medida que vão se conectando mais aos mesmos, e tantos outros, através das
redes sociais. É através dela também que eles fazem suas reivindicações e
criticam o sistema, sem sair de frente da tela do computador.
É, então, que a oportunidade
surge. Saem de frente das telas e ganham as ruas. E, apesar de um início
marcado por intensa repressão policial, demonstram a coragem e com o sentimento
revolucionário desenvolvem um movimento que ganha cada vez mais adeptos.
Começa em São Paulo, se espalha
pelo Brasil e, de repente, o mundo todo adere ao movimento. Em sua maioria,
afirma que não é por causa dos 20 centavos, motivo que a princípio teria
incentivado as manifestações.
Dizem que é pela má qualidade do
transporte público, da saúde, da educação, contra os políticos corruptos e os
investimentos nas Copas do Mundo e das Confederações, enquanto há tanto para se
melhorar no país. Outros, poucos, estão pela baderna e degradação. Alguns, para
poder erguer a bandeira de seus partidos políticos. E tem também aqueles que
desejam apenas aparecer na mídia.
Mas, grande parte deles é formada
por pessoas com vontade de fazer parte da história do seu país. Jovens cansados
das críticas feitas à sua geração e desiludidos com a política na nação. Eles
querem, sim, que o Brasil melhore e junto com ele melhore a qualidade de vida
dos cidadãos. Porém, inspirados no que aprenderam na escola, alguns já se darão
por satisfeitos em saber que participaram de um evento histórico.
Independente do motivo que os
levou às ruas, o importante mesmo é que a emocionante mobilização não se torne
apenas um fato histórico, isolado no tempo, e, sim, que os manifestantes
aproveitem esse despertar para a realidade e tragam seus ideais revolucionários
para o seu dia-a-dia.
Afinal, não adianta escrever
discursos bonitos no Facebook, sair
às ruas em protesto, participar de um momento histórico, se, no seu cotidiano,
apenas age de acordo com o sistema, exercendo seu individualismo e consumismo
exacerbado, mais preocupado em divulgar suas boas ações no Instagram do que propriamente com nas ações em si.
2 comentários:
Adorei!! E realmente falta trazer para o dia-a-dia a revolução, são os nossos atos que precisam ser mudados,, mudar o Brasil começando por nós mesmos.
É um momento importante da nossa trajetória e o desafio e entender cada vez melhor esse processo.
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