Há
24 anos, em 05 de Junho de 1989, um homem proporcionou uma das imagens mais
marcantes da história da humanidade. O fato ocorreu na China e seu anonimato
fez com que ele ficasse conhecido como o “Rebelde Desconhecido”. Esse ato de coragem, que virou símbolo na
luta pela paz, se torna ainda mais extraordinário quando conhecermos o contexto
no qual ele ocorreu.
Essa
imagem histórica é o desfecho de um momento trágico. Iniciou-se no mês de abril
daquele mesmo ano, um movimento formado principalmente por estudantes,
trabalhadores e intelectuais chineses. Eles se uniram após a morte de um
dirigente comunista que concordava com a necessidade de reformas no governo
chinês (ditadura comunista). Eles
passaram a protestar contra a corrupção do governo e pediam a abertura
econômica e política do país, de modo semelhante à antiga União Soviética.
Foto: Associated Press |
E foi justamente a União Soviética que fez o
mundo voltar seus olhos à Praça da Paz Celestial, a mesma onde o homem
desafiaria os tanques. No período do protesto, o presidente soviético, Mikhail
Gorbachev, visitou a China, algo que já era programado algum tempo antes. Veículos
de imprensa internacionais acompanharam Gorbachev e se surpreenderam com os
protestos na praça. Quando ele foi embora da China, diante da proporção que o
protesto já tinha tomado, a imprensa ficou.
Poucos
dias depois o governo comunista declarou a Lei Marcial, o que significava
suspensão de todos os direitos da população, como a possibilidade de se reunir
e o simples ato de ir e vir. Ainda assim o movimento continuava firme, centenas
de milhares já tomavam a praça, fazendo surgir até mesmo um monumento parecido
com a Estátua da Liberdade.
O
caminho para o desfecho aconteceu quando o governo chamou tropas do exército que
estavam no norte do país, trazendo para a Praça da “Paz Celestial” pessoas que não
tinham nenhum vínculo ou sequer sabiam de fato o que os manifestantes
desejavam. O resultado foi um massacre onde milhares foram mortos e feridos por
militares na noite de 4 de junho.
Então,
voltamos ao homem que motivou este texto. Na manhã do dia 5, tanques passavam
pela Praça da Paz Celestial quando surge nosso “Rebelde Desconhecido”. O vídeo
abaixo, com direito a subida no tanque de guerra, vale mais que mil palavras.
Como
já disse, sua identidade permanece desconhecida até hoje. Seu destino é
incerto, no vídeo ele é levado por dois homens, não se sabe se eram outros estudantes
ou soldados. O fato é que possivelmente ele estava entre os 906 manifestantes
presos após os protestos. Pode estar vivo ou pode ter sido executado. Ele teve seu
ato censurado na imprensa chinesa, mas seu feito é conhecido em muitos países.
Apesar
desse absoluto desconhecimento, não é necessário saber quem foi, qual a sua
história ou que destino ele teve para poder afirmar que esse momento de coragem
é sinônimo de liberdade. O cenário das
horas anteriores deixava claro que aquele ato teria consequências, mas a dignidade
de peitar aqueles tanques, pensando no que acreditava e em respeito a todos os
seus companheiros que morreram anteriormente, deve ter feito esse homem se
sentir livre de toda aquela opressão que lhe era imposta.
Por
ele ter vivido esse momento, breve, porém histórico, arrisco dizer que seja lá
o que “Rebelde Desconhecido” tenha tido como consequência, creio que ele não se
arrependeu do seu instante de liberdade. Se ele não tivesse feito aquilo,
talvez tivesse tido uma vida comum, podendo andar tranquilamente, mas nunca estaria
tão livre como naquele instante de bravura e dignidade.
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