Não
posso começar a falar da postura dos Estados Unidos com relação à crise que
afeta Síria sem ceder algumas linhas desse texto a uma breve volta a 2003. Mais
especificamente a noite de 17 de março, dia em que George W. Bush deu um
ultimato de 48 horas para que Saddam Hussein deixasse o Iraque, sob a pena de
uma pesada intervenção militar para capturá-lo.
A acusação estadunidense contra Saddam naquela ocasião era sobre a existência de supostas armas químicas no Iraque, algo que segundo o então presidente americano, colocava o mundo em risco. Ninguém queria a Guerra (relembre no vídeo no final dessa publicação). Eu só tinha dez anos na época, mas lembro-me nitidamente de como tudo e todos eram contrários.
Momento em que a estátua de Saddam Hussein foi derrubada. Foto: Jerome Delay/AP |
Bush não ouviu nenhuma opinião inversa à dele, inclusive o Conselho de Segurança da ONU. Invadiu e gerou uma guerra que até hoje matou 174 mil pessoas (122 mil civis) , segundo o Iraq Body Count (IBC), um grupo de voluntários dos Estados Unidos e Reino Unido que contabiliza as mortes da intervenção militar. As tais armas químicas não mataram ninguém, pois nunca foram encontradas. Saddam Hussein foi morto e o petróleo iraquiano foi desnacionalizado.
Então avançamos na história e chegamos à Síria: a crise que se instalou em março de 2011, com o levante contra o ditador Bashar al-Assad - há treze anos no poder -, já matou até agora 100 mil pessoas, segundo a ONU.
Já são 1,7 milhão de pessoas que fugiram para os países vizinhos, muitas vezes largando suas famílias para trás. Segundo o próprio site da ONU, “a estimativa é que 6,8 milhões de pessoas necessitem de assistência humanitária urgente – incluindo 3,1 milhões de crianças”. Segundo a Comissão Econômica e Social para a Ásia Ocidental, 1,2 milhão de famílias tiveram suas casas atingidas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, “57% dos hospitais públicos foram danificados ou destruídos e 37% estão fechados”, afirma o site da ONU.
Há cerca de um ano o próprio presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou que caso a ditadura síria utilizasse armas químicas, existiria uma reação militar. Nesta segunda-feira (26), o secretário de estado americano, John Kerry, afirmou que o ataque foi “real e convincente”.
A reação militar é iminente. O presidente da França, François Hollande, afirmou que seu país está pronto. O primeiro ministro britânico, David Cameron, convocou o parlamento que estava em férias para uma reunião de emergência nessa quinta-feira (29). Nos Estados Unidos, as Forças Armadas já se colocam como prontas, a espera apenas do aval de Obama. A imprensa americana já prepara a população, que até então é contraria, para a intervenção militar. Israel, grande parceiro dos americanos, já se prepara para uma retaliação da ditadura síria.
Os próximos dias são decisivos para sabermos como tudo irá acontecer. Especula-se que seja apenas uma reação breve, para desestabilizar o governo sírio e fortalecer os rebeldes opositores. A questão é que já tem grupos terroristas como a Al Qaeda se aproximando dos opositores nos bastidores.
O
ocidente deixou crescer um tumor que agora para ser resolvido exigirá ações
precisas e urgentes. Mas, assim como não faltou disposição para contrariar o
mundo e invadir o Iraque em busca de petróleo sob o pretexto de um possível uso
de armas químicas, não podem fugir agora que armas químicas estão sendo
utilizadas contra o povo sírio. A intervenção é para ontem, não dá mais para
esperar.
Vídeo
– Relembre como foi a invasão americana ao Iraque